Resumo - O Calor das Coisas

Vem  de longe a formação  literária  de  Nélida  Piñon. Já nos idos de  1979,  há mais  de  20  anos, ao ser entrevistada pela Revista Brasileira de Língua e Literatura, por nós dirigida, dizia aos  seus  entrevistadores  ser  muito  difícil  detectar  as  suas  próprias  origens,  decifrar  o  seu  próprio  enigma. Isso porque, tocando nesse enigma, ela põe o dedo no mistério da criação e descobre a  existência da palavra perdida ou  escondida. E logo acrescenta que a sua  vocação desabrochou  quando  descobriu  a  existência  (e  a  importância!)  dessa  palavra  recôndita.  A  linguagem  oficial,  diretamente colhida no registro do dicionário, obriga-nos a pensar dentro do Código.
Assim, num  dos  seus  primeiros  contos,  ao  definir  uma  ladeira,  ela  escreveu  a  palavra  íngreme.  "Foi  um  choque muito grande", observa. Resolveu,  então, que pagaria qualquer preço, mas não  poderia  jamais apostar  num texto  em  que  tivesse  de  escrever  ladeira  íngreme. Desde  cedo,  pressentiu  que a língua convencionalmente centrada no lugar comum do Código deveria ser abolida do seu  processo criador, dando lugar à linguagem. Como se vê, o texto criativo de Nélida Piñon levanta,  antes  de  tudo,  uma  questão  conflitual  entre  língua  e  linguagem.  Desde  o  início,  em  sua  inquietação de  jovem escritora,  ela  revelava  perfeita consciência  dos  limites  da língua centrada  no  Código  (igual  a  lugar  onde  se  fixa  uma  cultura,  segundo  Michel  Foucault)  e  da  infinitude  potencial  da  linguagem.  Sabia  que  o  texto  que  remete  ao  Código  não  passa  de  um  texto  reduplicador  de  sentidos;  e  que  a  linguagem  literária,  só  pelo  processo  de  rupturas,  poderia  instaurar sentidos novos, dando-se isso pela revelação da palavr a perdida ou escondida.  Assim,  avançando pelas fissuras  da linguagem, ela própria começava  a desvendar um mundo invisível,  mas ansioso por ter visibilidade,  pois toda estrutura significante  esconde um  significado que vai  além  do  sentido  meramente  lingüístico.  Em outras  palavras,  um  texto  literário  sempre  esconde  uma cena latente por detrás do significado linear da cena manifesta. No seu processo de criação,  desde cedo percebeu que a cena latente devia valer mais que a cena simplesmente manifesta. A  busca,  por  vezes  desesperada, da  palavra  escondida, exatamente  a que vai  instaurar sentidos  novos, é que pode explicar o salto da estática da língua para a dinâmica do discurso.
Narradora  e  intelectual  ativa,  Nélida  Piñon,  defensora  da  arte  de  contar,  pensou  que
Sherazade  era  a criatura mais emblemática  neste assunto  e que o Oriente Médio era o  enclave  perfeito para soltar a imaginação humana.   "Eles  têm  um  único  Deus.  É  um  lugar  no  qual se reúnem  três  religiões  monoteístas  que  abraçam  um  Deus  invisível,  e  isso  também  é  pura  imaginação,  porque  é  algo  não  tangível,  não  palpável;  é  tão  sutil  que  seus  efeitos  provocam  versões  distintas",  assinalou  a  escritora  de  "A  república  dos  sonhos".  Sedução,  sonhos,  imaginação,  erotismo,  beleza  e  mestiçagem  percorrem  as  páginas  deste  livro,  em  que  as  mulheres têm claro protagonismo. "Como escritora tenho o grande prazer de observar e, embora  acredite que também faço personagens masculinos completos, aqui favoreço as mulheres. Quer o  ser uma escritora protéica e assimilar muitas formas humanas e poder me tornar criança, homem,  vegetal  ou  animal.  Ser  polissêmica  e  camaleônica".  E  para  conseguir  este  propósito,  Nélida  Piñon, cuja obra foi traduzida para vários idiomas, assegurou que seu projeto de vida tem que ser  "a  carnalidade  humana".  "Se  Flaubert  teve  a  pretensão  deslumbrante  de  dizer  que  Madame  Bovary era ele, eu também posso ser tudo. Para mim, a melhor maneira de dirigir um projeto de  criação é sendo capaz de se colocar nas veias alheias", disse a escritora.

RESUMO DOS CONTOS

O JARDIM DAS OLIVEIRAS
Zé é o narrador, ele vai ser levado de seu apartamento à força, vai ser interrogado sobre o  paradeiro de um tal Antônio. Zé e seus algozes conhecem  Antônio como  membro de  um grupo  perseguido pelo regime militar. Zé não suporta a idéia de ser torturado novamente, pois já tivera  esta experiência  anteriormente. Sente fraco  e  incapaz de  resistir  à  força dos poderosos que se  abate  sobre  ele.  Ele  acredita  que  não  vai  resistir  e  acabará  entregando  o  amigo  a  seus  perseguidores.

AS QUATRO PENAS BRANCAS
Os  amigos  Pedro  e  Rubem  estão  conversando,  eles  precisam  ir  a  Niterói  para  buscar  dinheiro emprestado com o pai de Rubem, pois ele deve a pensão dos quatro filhos, que moram  com  a mãe  Alice. Conseguem  o  dinheiro  e, no  caminho  de volta,  a  bordo da  barca,  conhecem  Colombo, o vendedor de amendoim.
Colombo conta-lhes  sua  estranha  e  obsessiva  amizade  por  Bulhões.  O  tempo  que  moraram juntos e sua vida na fazenda comprada por Colombo no tempo em que er a rico. Após a  separação dos amigos, Colombo vai à falência e passa a viver da venda de amendoins na barca  rio-niterói.       Enfim, após muita conversa, os quatro  decidem ir beber  umas  cervejas.  Num bar  escuro,  os três conversam quando, de repente chega Bulhões. Os quatro, então  gastam todo o dinheiro  da pensão dos filhos de Rubem.
I LOVE MY HUSBAND
Num texto belíssimo, com brilhantes metáforas e uma refinada ironia, a narradora declara  seu  amor  a  seu  marido.  Mas  ocorre  que  esse  marido  é  um  homem  egoísta,  machista  e  não  considera  nada  do  que  essa  esposa  diz  ou  pensa.  Ela  acredita  que,  afinal,  ele  está  certo  em  querer ser o chefe do lar, decidir por tudo do jeito dele. Ela faz crer que é feliz e assim é que as  coisas devem ser. Leia abaixo o conto na íntegra:
Eu amo meu marido. De manhã à noite. Mal acordo, ofereço-lhe café. Ele suspira exausto da  noite sempre maldormida e começa a barbear-se. Bato-lhe à porta três vezes, antes que o  café esfrie. Ele grunhe com raiva e eu vocifero com aflição. Não quero meu esforço  confundido com um líquido frio que ele tragará como me traga duas vezes por semana,  especialmente no sábado.    Depois, arrumo-lhe o nó da gravata e ele protesta por consertar-lhe unicamente a parte  menor de sua vida. Rio para que ele saia mais tranqüilo, capaz de enfrentar a vida lá fora e  trazer de volta para a sala de visita um pão sempre quentinho e farto.    Ele diz que sou exigente, fico em casa lavando a louça, fazendo compras, e por cima  reclamo da vida. Enquanto ele constrói o seu mundo com pequenos tijolos, e ainda que  alguns destes muros venham ao chão, os amigos o cumprimentam pelo esforço de criar  olarias de barro, todas sólidas e visíveis.    A mim também me saúdam por alimentar um homem que sonha com casas-grandes,  senzalas e mocambos, e assim faz o país progredir. E é por isto que sou a sombra do homem  que todos dizem eu amar. Deixo que o sol entre pela casa, para dourar os objetos comprados  com esforço comum. Embora ele não me cumprimente pelos objetos fluorescentes. Ao  contrário, através da certeza do meu amor, proclama que não faço outra coisa senão  consumir o dinheiro que ele arrecada no verão. Eu peço então que compreenda minha  nostalgia por uma terra antigamente trabalhada pela mulher, ele franze o rosto como se eu lhe estivesse propondo uma teoria que envergonha a família e a escritura definitiva do nosso  apartamento.    O que mais quer, mulher, não lhe basta termos casado em comunhão de bens? E dizendo que  eu era parte do seu futuro, que só ele porém tinha o direito de construir, percebi que a  generosidade do homem habilitava-me a ser apenas dona de um passado com regras ditadas  no convívio comum.    Comecei a ambicionar que maravilha não seria viver apenas no passado, antes que este  tempo pretérito nos tenha sido ditado pelo homem que dizemos amar. Ele aplaudiu o meu  projeto. Dentro de casa, no forno que era o lar, seria fácil alimentar o passado com ervas e  mingau de aveia, para que ele, tranqüilo, gerisse o futuro. Decididamente, não podia ele  preocupar-se com a matriz do meu ventre, que devia pertencer-lhe de modo a não precisar  cheirar o meu sexo para descobrir quem mais, além dele, ali estivera, batera-lhe à porta,  arranhara suas paredes com inscrições e datas.    Filho meu tem que ser só meu, confessou aos amigos no sábado do mês que recebíamos. E  mulher tem que ser só minha e nem mesmo dela. A idéia de que eu não podia pertencer-me,  tocar no meu sexo para expurgar-lhe os excessos, provocou-me o primeiro sobressalto na  fantasia do passado em que até então estivera imersa. Então o homem, além de me haver  naufragado no passado, quando se sentia livre para viver a vida a que ele apenas tinha  acesso, precisava também atar minhas mãos, para minhas mãos não sentirem a doçura da  própria pele, pois talvez esta doçura me ditasse em voz baixa que havia outras peles  igualmente doces e privadas, cobertas de pêlo felpudo, e com a ajuda da língua podia  lamber-se o seu sal?    Olhei meus dedos revoltada com as unhas longas pintadas de roxo. Unhas de tigre que  reforçavam a minha identidade, grunhiam quanto à verdade do meu sexo. Alisei meu corpo,  pensei, acaso sou mulher unicamente pelas garras longas e por revesti-las de ouro, prata, o  ímpeto do sangue de um animal abatido no bosque? Ou porque o homem adorna-me de  modo a que quando tire estas tintas de guerreira do rosto surpreende-se com uma face que  Ihe é estranha, que ele cobriu de mistério para não me ter inteira?    De repente, o espelho pareceu-me o símbolo de uma derrota que o homem trazia para casa e  tornava-me bonita. Não é verdade que te amo, marido? perguntei-lhe enquanto lia os jornais,  para instruir-se, e eu varria as letras de imprensa cuspidas no chão logo após ele assimilar a  notícia. Pediu, deixe-me progredir, mulher. Como quer que eu fale de amor quando se  discutem as alternativas econômicas de um país em que os homens para sustentarem as  mulheres precisam desdobrar um trabalho de escravo.    Eu lhe disse então, se não quer discutir o amor, que afinal bem pode estar longe daqui, ou  atrás dos móveis para onde às vezes escondo a poeira depois de varrer a casa, que tal se após tantos anos eu mencionasse o futuro como se fosse uma sobremesa?    Ele deixou o jornal de lado, insistiu que eu repetisse. Falei na palavra futuro com cautela,  não queria feri-lo, mas já não mais desistia de uma aventura africana recém-iniciada naquele  momento. Seguida por um cortejo untado de suor e ansiedade, eu abatia os javalis,  mergulhava meus caninos nas suas jugulares aquecidas, enquanto Clark Gable, atraído pelo  meu cheiro e do animal em convulsão, ia pedindo de joelhos o meu amor. Sôfrega pelo  esforço, eu sorvia água do rio, quem sabe em busca da febre que estava em minhas entranhas  e eu não sabia como despertar. A pele ardente, o delírio, e as palavras que manchavam os  meus lábios pela primeira vez, eu ruborizada de prazer e pudor, enquanto o pajé salvava-me  a vida com seu ritual e seus pêlos fartos no peito. Com a saúde nos dedos, da minha boca parecia sair o sopro da vida e eu deixava então o Clark Gable amarrado numa árvore,  lentamente comido pelas formigas. Imitando a Nayoka, eu descia o rio que quase me  assaltara as forças, evitando as quedas d'água, aos gritos proclamando liberdade, a mais  antiga e miríade das heranças.    O marido, com a palavra futuro a boiar-lhe nos olhos e o jornal caído no chão, pedia-me, o  que significa este repúdio a um ninho de amor, segurança, tranqüilidade, enfim a nossa  maravilhosa paz conjugal? E acha você, marido, que a paz conjugal se deixa amarrar com os  fios tecidos pelo anzol, só porque mencionei esta palavra que te entristece, tanto que você  começa a chorar discreto, porque o teu orgulho não lhe permite o pranto convulso, este sim,  reservado à minha condição de mulher? Ah, marido, se tal palavra tem a descarga de te  cegar, sacrifico-me outra vez para não vê-lo sofrer. Será que apagando o futuro agora ainda  há tempo de salvar-te?    Suas crateras brilhantes sorveram depressa as lágrimas, tragou a fumaça do cigarro com  volúpia e retomou a leitura. Dificilmente se encontraria homem como ele no nosso edifício  de dezoito andares e três portarias. Nas reuniões de condomínio, a que estive presente, era  ele o único a superar os obstáculos e perdoar aos que o haviam magoado. Recriminei meu  egoísmo, ter assim perturbado a noite de quem merecia recuperar-se para a jornada seguinte.    Para esconder minha vergonha, trouxe-lhe café fresco e bolo de chocolate. Ele aceitou que  eu me redimisse. Falou-me das despesas mensais. Do balanço da firma ligeiramente  descompensado, havia que cuidar dos gastos. Se contasse com a minha colaboração,  dispensaria o sócio em menos de um ano. Senti-me feliz em participar de um ato que nos  faria progredir em doze meses. Sem o meu empenho, jamais ele teria sonhado tão alto.  Encarregava-me eu à distância da sua capacidade de sonhar. Cada sonho do meu marido era  mantido por mim. E, por tal direito, eu pagava a vida com cheque que não se poderia  contabilizar.    Ele não precisava agradecer. De tal modo atingira a perfeição dos sentimentos, que lhe  bastava continuar em minha companhia para querer significar que me amava, eu era o mais  delicado fruto da terra, uma árvore no centro do terreno de nossa sala, ele subia na árvore,  ganhava-lhe os frutos, acariciava a casca, podando seus excessos.    Durante uma semana bati-lhe à porta do banheiro com apenas um toque matutino. Disposta a  fazer-lhe novo café, se o primeiro esfriasse, se esquecido ficasse a olhar-se no espelho com a  mesma vaidade que me foi instilada desde a infância, logo que se confirmou no nascimento  tratar-se de mais uma mulher. Ser mulher é perder-se no tempo, foi a regra de minha mãe.  Queria dizer, quem mais vence o tempo que a condição feminina? O pai a aplaudia  completando, o tempo não é o envelhecimento da mulher, mas sim o seu mistério jamais  revelado ao mundo.    Já viu, filha, que coisa mais bonita, uma vida nunca revelada, que ninguém colheu senão o  marido, o pai dos seus filhos? Os ensinamentos paternos sempre foram graves, ele dava  brilho de prata à palavra envelhecimento. Vinha-me a certeza de que ao não se cumprir a história da mulher, não lhe sendo permitida a sua própria biografia, era-lhe assegurada em  troca a juventude.    Só envelhece quem vive, disse o pai no dia do meu casamento. E porque viverás a vida do  teu marido, nós te garantimos, através deste ato, que serás jovem para sempre. Eu não sabia  como contornar o júbilo que me envolvia com o peso de um escudo, e ir ao seu coração,  surpreender-lhe a limpidez. Ou agradecer-lhe um estado que eu não ambicionara antes, por  distração talvez. E todo este troféu logo na noite em que ia converter-me em mulher. Pois até  então sussurravam-me que eu era uma bela expectativa. Diferente do irmão que já na pia  batismal cravaram-lhe o glorioso estigma de homem, antes de ter dormido com mulher.  Sempre me disseram que a alma da mulher surgia unicamente no leito, ungido seu sexo pelo  homem. Antes dele a mãe insinuou que o nosso sexo mais parecia uma ostra nutrida de água  salgada, e por isso vago e escorregadio, longe da realidade cativa da terra. A mãe gostava de  poesia, suas imagens sempre frescas e quentes.    Meu coração ardia na noite do casamento. Eu ansiava pelo corpo novo que me haviam  prometido, abandonar a casca que me revestira no cotidiano acomodado. As mãos do marido  me modelariam até os meus últimos dias e como agradecer-lhe tal generosidade? Por isso  talvez sejamos tão felizes como podem ser duas criaturas em que uma delas é a única a  transportar para o lar alimento, esperança, a fé, a história de uma família.    Ele é único a trazer-me a vida, ainda que às vezes eu a viva com uma semana de atraso. O  que não faz diferença. Levo até vantagens, porque ele sempre a trouxe traduzida. Não  preciso interpretar os fatos, incorrer em erros, apelar para as palavras inquietantes que  terminam por amordaçar a liberdade. As palavras do homem são aquelas de que deverei  precisar ao longo da vida. Não tenho que assimilar um vocabulário incompatível com o meu  destino, capaz de arruinar meu casamento.
Assim fui aprendendo que a minha consciência que está a serviço da minha felicidade ao  mesmo tempo está a serviço do meu marido. É seu encargo podar meus excessos, a natureza  dotou-me com o desejo de naufragar às vezes, ir ao fundo do mar em busca das esponjas. E  para que me serviriam elas senão para absorver meus sonhos, multiplicá-los no silêncio  borbulhante dos seus labirintos cheios de água do mar? Quero um sonho que se alcance com  a luva forte e que se transforme algumas vezes numa torta de chocolate, para ele comer com  os olhos brilhantes, e sorriremos juntos.    Ah, quando me sinto guerreira, prestes a tomar das armas e ganhar um rosto que não é o  meu, mergulho numa exaltação dourada, caminho pelas ruas sem endereço, como se a partir  de mim, e através do meu esforço, eu devesse conquistar outra pátria, nova língua, um corpo  que sugasse a vida sem medo e pudor. E tudo me treme dentro, olho os que passam com um  apetite de que não me envergonharei mais tarde. Felizmente, é uma sensação fugaz, logo  busco o socorro das calçadas familiares, nelas a minha vida está estampada. As vitrines, os  objetos, os seres amigos, tudo enfim orgulho da minha casa.    Estes meus atos de pássaro são bem indignos, feririam a honra do meu marido. Contrita,  peço-lhe desculpas em pensamento, prometo-lhe esquivar-me de tais tentações. Ele parece  perdoar-me à distância, aplaude minha submissão ao cotidiano feliz, que nos obriga a  prosperar a cada ano. Confesso que esta ânsia me envergonha, não sei como abrandá-la. Não  a menciono senão para mim mesma. Nem os votos conjugais impedem que em escassos  minutos eu naufrague no sonho. Estes votos que ruborizam o corpo mas não marcaram  minha vida de modo a que eu possa indicar as rugas que me vieram através do seu arrebato.  Nunca mencionei ao marido estes galopes perigosos e breves. Ele não suportaria o peso  dessa confissão. Ou que lhe dissesse que nessas tardes penso em trabalhar fora, pagar as  miudezas com meu próprio dinheiro. Claro que estes desatinos me colhem justamente pelo  tempo que me sobra. Sou uma princesa da casa, ele me disse algumas vezes e com razão.  Nada pois deve afastar-me da felicidade em que estou para sempre mergulhada.    Não posso reclamar. Todos os dias o marido contraria a versão do espelho. Olho-me ali e ele  exige que eu me enxergue errado. Não sou em verdade as sombras, as rugas com que me  vejo. Como o pai, também ele responde pela minha eterna juventude. É gentil de  sentimentos. Jamais comemorou ruidosamente meu aniversário, para eu esquecer de  contabilizar os anos. Ele pensa que não percebo. Mas, a verdade é que no fim do dia já não  sei quantos anos tenho.    E também evita falar do meu corpo, que se alargou com os anos, já não visto os modelos de  antes. Tenho os vestidos guardados no armário, para serem discretamente apreciados. Às  sete da noite, todos os dias, ele abre a porta sabendo que do outro lado estou à sua espera. E  quando a televisão exibe uns corpos em floração, mergulha a cara no jornal, no mundo só  nós existimos.
Sou grata pelo esforço que faz em amar-me. Empenho-me em agradá-lo, ainda que sem  vontade às vezes, ou me perturbe algum rosto estranho, que não é o dele, de um  desconhecido sim, cuja imagem nunca mais quero rever. Sinto então a boca seca, seca por  um cotidiano que confirma o gosto do pão comido às vésperas, e que me alimentará amanhã  também. Um pão que ele e eu comemos há tantos anos sem reclamar, ungidos pelo amor,  atados pela cerimônia de um casamento que nos declarou marido e mulher. Ah, sim, eu amo  meu marido.

O ILUSTRE MENEZES
O  narrador,  Menezes,  é  casado  com  Conceição,  uma  mulher  educada  num  rigoroso  sistema  moralista.  Proíbe-se ter prazer ou  conversar  sobre  sua  intimidade.  Menezes  conta que  tem o hábito de dormir fora de casa nas  Quintas-feiras , pois vai ver sua amante Pastora.    Apesar  da impertinência da  sogra,  D.  Inácia,  ele  dobra a mulher  com as desculpas mais  esfarrapadas, como por exemplo ir ao teatro sozinho com medo que  a esposa se  aborreça com  as peças. Ele arruma uma segunda amante, Delfina, que acaba por abandona-lo.    No  conto,  predomina  a atmosfera  de século XIX,  com uma linguagem  no estilo  Machado  de Assis. Aliás, o final da história faz referência ao célebre conto Missa do Galo, do referido autor.

FINISTERRE
A  nar radora  em 1º  pessoa,  visita o  padrinho  de 60  anos,  que  mora  em uma ilha. Ambos  são galegos, raça  forte  e  emotiva.  O  almoço  e  o  passeio  são cheios  de  imagens de  carinho  e  ternura do  padrinho. Enfim  a  narradora  se  despede  como  quem  nunca  mais vai  voltar  a  ver as  pessoas queridas que deixa na ilha.

TARZAN E BEIJINHO
O narrador fala de seus amigos, Tarzan(americano) e Beijinho(brasileira). Eles se adoram  mas o narrador  acha  melhor  afastar-se deles,  deixá-los  a  sós para curtirem-se  mais à vontade.  Depois  de  um  tempo,  o  narrador  recebe  bilhetes  dos  amigos,  decide  procurá-los  e  é  recebido  friamente. Assim percebe que a amizade tem muito valor.

O REVÓLVER DA PAIXÃO
A narradora faz uma declaração de amor a seu homem e exige seu retorno imediato. Seu  discurso é sensual e apaixonado.
CORAÇÃO DE OURO.
Um  narrador  em  3º  p.  relata  que  Agenor  Couto  (AC),  enriquecera,  tornara-se  vaidoso  e  fora  fisgado  por  sua  secretária  loura  e  sensualíssima.  Ela  assume  o  controle  de  sua  agenda,  definindo  o  que  ele  vai fazer ou  não  fazer. OBS:  AC acha que  as  avenidas  principais  deveriam  ser de uso exclusivo dos ricos, mais ocupados, e não para pobres, pois eles poderiam usar vias  secundárias.

O SORVETE É UM PALÁCIO
A narradora  revela  uma  visita  que  recebeu  de  um  sorveteiro  da  praia,  por  quem  ela  se  apaixonou. Ele é casado e tem 3 filhos; é  pobre mas  sonhador, diz que vai deixar a esposa e a  narradora entende isso como uma declaração de amor. Ele vai embora e ela espera que ele volte  algum dia.

DISSE UM CAMPÔNIO À SUA ESPOSA
Um narrador em 1º p. , um camponês,  declara-se para sua esposa de forma apaixonada.  Numa atmosfera bucólica e harmônica ele revela todo seu amor pela mulher com quem caou-se.

A SEREIA ULISSES
Uma  narradora  fala  de  um  companheiro,  Antônio,  de  quem  livrou-se  ao  pôr  fogo  no  apartamento. Ela é uma mulher dona de si e senhora de seu próprio destino.

O CALOR DAS COISAS
(conto na íntegra)

A SOMBRA DA CAÇA
A  narradora  dirige-se  a  seu  filho  em  uma  carta.  Ela  lhe  fala  da  tumultuada  relação  que  tivera  com o marido.  O quanto ela lutou  para  livrar-se  dele e  do amor incondicional que ele lhe  oferecia. Ao  expulsá-lo de casa,  ela  perdeu a chance de ser feliz. O  pai  foi  embora para nunca  mais voltar. No fim do conto, o filho envia à mãe um bilhete dizendo-lhe que o pai nunca deixara  de amá-la.

Fonte: www.sagradomarilia.com.br

1 comentários:

Brunna Martins disse...

Os resumos me ajudaram bastante, obrigado!

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